Radiação: uma análise dos riscos no Japão

11:35
A radiação continua a vazar de uma usina nuclear danificada pelo terremoto e tsunami no Japão. A população recebe informações inconsistentes sobre a gravidade dos danos, e muitas pessoas ficam ansiosas e até entram em pânico quando pensam nas possíveis implicações para a saúde.
Embora os cientistas não possam prever o futuro, podem colocar a atual crise sob perspectiva. Até agora, os especialistas dizem que a situação é preocupante, mas empalidece diante da comparação com os níveis de radiação de alguns dos piores desastres nucleares anteriores.
Por enquanto, o maior desafio à saúde pública no Japão tem sido descontaminar trabalhadores e moradores que vivem em um raio de até 80 quilômetros da usina de Fukushima Daiichi. Esses grupos podem enfrentar problemas na tireoide, leuceumia e outras formas de câncer nos próximos anos edécadas.
Se a situação se agravar, as ameaças à saúde serão bem mais sérias, disseminadas e potencialmente fatais. Dependendo do vento e dos padrões atmosféricos, os efeitos poderiam chegar até a costa oeste dos Estados Unidos. E uma vez fixada no planeta, a radiação pode persistir por milhares ou milhões de anos.
"Se ocorrer o derretimento completo de todo o núcleo e uma explosão, haverá outro Chernobyl", alertou Scott Davis, epidemiologista no Centro de Pesquisa sobre Câncer Fred Hutchinson e da Universidade de Washington em Seattle. "O cenário então será totalmente diferente”.
Os cientistas medem os níveis de radiação com unidades chamadas millisieverts, ou mSv. Como a radiação vinda do espaço e da crosta da Terra flui em nossa direção, juntamente com pequenas descargas de instalações médicas, usinas nucleares e fontes artificiais, a maioria das pessoas é exposta a níveis que variam entre 1 e 10 mSv ao longo de um ano, dependendo da região e da altitude.
Uma radiografia do tórax emite 0,1 mSv em apenas uma única parte do corpo, explica o radioterapeuta James Hevezi, diretor da Comissão de Radioterapeutas do American College. E as pessoas que trabalham com radiação médica são monitoradas para evitar exposições totais maiores que 50 mSv por ano, bem abaixo dos níveis de segurança. Em níveis tão baixos, os riscos à saúde são mínimos.
Mas em doses maiores, os riscos aumentam porque a radiação destrói os elétrons dos átomos ao atravessar o corpo humano. Com a alta exposição, as células morrem, o DNA se rompe e tecidos são danificados.
A radiação afeta o corpo de maneiras diferentes. Os efeitos prejudiciais podem ser intensificados por traumas, ferimentos e doenças. Mas em geral, com níveis de exposição de cerca de 1.000 mSv (ou 1 sievert) por hora, a radiação pode causar náusea, vômitos, diarreia e bolhas na pele.
Exposições entre 3.500 e 5.000 mSv que duram minutos a horas podem levar à morte em 30 dias metade das pessoas afetadas, segundo a Comissão Reguladora Nuclear dos Estados Unidos. Níveis mais altos podem até causar a morte imediata.
Em exposições acima dos níveis de segurança, mas abaixo dos limites que causam doenças e podem ser fatais, os efeitos são menos dramáticos, mas mais insidiosos. As pessoas não sabem que foram contaminadas até que os sintomas comecem a surgir meses anos e até décadas mais tarde.
"Quando alguém vê um caminhão vindo em sua direção, sabe que vai se machucar muito”, disse Hevezi said. "O problema com a radiação é que não a percebemos, não a vemos chegar”.
Depois de uma exposição extrema, os problemas na tireoide costumam se manifestar nos primeiros meses ou anos porque a glândula é particularmente sensível à radiação. A leucemia infantil também surge precocemente. As vítimas desenvolvem tumores sólidos e câncer nos seios, intestino, pulmões e outras partes do corpo.
"A radiação é muitas vezes considerada um carcinogênico universal por sua capacidade de desencadear o câncer em vários tecidos e órgãos”, explica Jerrold Bushberg, diretor dos programas de saúde da Universidade da Califórnia. Para cada 1.000 mSv de exposição, o risco de morrer de câncer salta de 5% para 42% sobre a taxa natural de mortalidade associada à doença.
A história oferece muitos exemplos de como a radiação pode afetar a saúde. Pesquisadores detectaram poucos problemas associados a exposições relativamente pequenas – como as de 10 mSv em pessoas que estavam próximas a locais de testes atômicos, ou o pico de 20 mSv que ocorreu em 1979, durante o acidente com a usina de Three-Mile Island na Pensilvânia.
Já durante as explosões atômicas de Hiroshima e Nagasaki em 1945, os picos de radiação saltaram de 1.000 mSv para mais de 100.000 mSv. Muitas pessoas tiveram morte instantânea e a radiação matou muitas outras nos meses subsequentes.
Entretanto, na maioria das pessoas que sobreviveu às explosões, os níveis médios variavam entre 10 e 100 mSv. Estudos sobre aquela população ajudaram os pesquisadores a saber mais sobre a relação entre a radiação e o câncer.
A exposição a que foram submetidos trabalhadores e bombeiros no desastre de Chernobyl, em 1986, foi mais baixa, mas ainda perigosa, com níveis que variavam entre 800 e 16.000 mSv. As pessoas evacuadas da Ucrânia apresentavam níveis de 17 mSv.
Nos evacuados da Bielo-Rússia, a média era de 31 mSv. E até agora, os únicos efeitos documentados são milhares de casos de câncer de tireoide em crianças e adolescentes que beberam leite contaminado com iodo radioativo.
É difícil prever o que acontecerá no Japão. Com a falha na usina de Fukushima Daiichi, a radiação atingiu níveis de 400 mSv por hora em um dos reatores, mas não se sabe se a população foi exposta a níveis mais elevados. Em Tóquio, os níveis de radiação subiram apenas três ou quatro vezes e voltaram ao normal pouco tempo depois.
“Não quero pensar no pior porque ninguém sabe o que vai acontecer”, disse Bushberg. "No momento, a quantidade de radiação liberada tem sido modesta. Não tenho nenhuma preocupação específica quanto à população em geral”.


FONTE : http://blogs.discoverybrasil.com/noticias/2011/03/radia%C3%A7%C3%A3o-uma-an%C3%A1lise-dos-riscos-no-jap%C3%A3o.html
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